Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 19 de junho de 2012

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RIO MENOS 20do Facebook Abaixo, está o relato da Sonya Prazeres que esteve na Rio+20. Quer saber como é e está acontecendo o evento? Leia!


"RIO+20: se Jesus entrasse neste templo, certamente ele ficaria muito irado, e quebraria tudo... porque é impossível, no meio de tanta oferta prostituta, encontrar a figura real do indio, com seus reais valores, e suas reais e urgentes reivindicações. Os edifícios principais do MAM, as grandes tendas, as grandes cúpulas, estão todos ocupados pelos comerciantes e seus arremedos medonhos... tudo máfia disfarçada de prósperos executivos... volto ao sentimento de que o Brasil tem tudo pra ser a primeira potência do mundo, mas, com um pouco de lucidez, logo se vê que isso provavelmente nunca acontecerá... porque são todos vendilhões, sem ideologia, sem sonho, sem fé, sem um pé no futuro... 
A força da grana ergue coisas tão belas apenas para o lucro, essa fera faminta que devora toda beleza possível... o sonho de uma humanidade mais evoluída e elevada ficou distante, talvez lá no planetinha do Pequeno Príncipe, no seu sonho de cultivar e cuidar apenas da rosa que ele ama...

Além de parecer tudo uma grande improvisação, sem nenhum planejamento, nem ao menos placas (os atendentes oficiais, os tais de camisa azul, deviam estar flutuando no éter, raramente encontramos um, e ao perguntarmos a este ser raro, onde estava a tenda 34, anunciada no jornal, ele nos perguntou de volta: - tenda? que tenda? aqui só tem cúpulas...?). Depois de rodar por duas horas atrás da tenda 34, afinal descobrimos q a Vigília que buscávamos não era nas grandes tendas brancas, mas na Cúpula dos Povos, por onde já tínhamos passado uma meia dúzia de vezes, sem ao menos desconfiar q nosso destino estava logo ali... 

Bom, somos a legião da Boa Vontade, não somos? então buscamos cadeiras, sentamos na volta externa da grade, bem fora do espaço de circulação, e esperamos por mais de uma hora para o início da cerimônia... Que cerimônia? 
ah, sim, fica difícil contar sem uma boa risada, mas vamos lá: primeiro, todos os que estávamos bem acomodados ali, fomos incomodamente movidos lá pra trás das grades: "para que o povo da cerimônia pudesse se movimentar por ali". 
O povo da cerimônia? sim, claro... veio primeiro o povo do fogo - os índios em fila de escola, que se sentaram por alguns minutos nas cadeiras especiais embaixo do palco, esperaram os discursos (suínamente traduzidos para o inglês e o espanhol), e voltaram para seu ponto de partida em fila igual, silenciosos de gestos e voz, conforme mandou o protocolo... depois veio o povo da água - as mulheres – que repetiram o mesmo entra-senta-levanta-sai, em absoluto silencio, conforme mandou o conformismo de fêmea moderna participante... em seguida foram chamados os representantes de cada etnia religiosa... das mais sérias às mais esdrúxulas e desconhecidas... e estes, afinal, permaneceram sentados... 

Mas em volta e por trás deles ergueu-se logo uma parede entre convidados e plateia, formada por um batalhão de câmera-men, que no disparo de seus frenéticos cliques, obstruíram o resto de visão do povo comum, lá atrás das grades. A "celebração" passou a ser entremeada de tímidos pedidos populares: gritos insignificantes de "senta", abaixa", "sai da frente". todos temerosos de serem flagrados por algum clique, e tarjados com a legenda: VEXAME. 
Afinal, anunciou-se a SAGRADA cerimônia, com a entrada de um chinês baixinho e nervoso, que leu sua bíblia de intenções e desejos, a qual foi TODA traduzida, paragrafo por paragrafo, em um inglês macarrônico, e um espanhol nem isso... e lá se foi mais uma hora de tishik-thaq-toiko- katu... e nós lá sentados, aturando tudo... ô povinho sem pai nem mãe...!

Me lembrei do depoimento de um ser inteligente que vi outro dia na tv, dizendo que o Brasil sofria da anomalia da insegurança, que nós brasileiros tínhamos tudo para liderar, mas nunca fazíamos bom uso desta qualidade: preferíamos deixar que os outros se expusessem primeiro, e seguíamos atrás...
A cerimônia?... ah, é, lembrei: depois das quase duas horas de esperas e discursos macarro-triglota, o povo cansado começou a acender, por conta própria, uma velinha que fora distribuída horas antes... e então desvendou-se um enorme sino que estava ao fundo do palco, coberto por um pano vermelho... arrancada sua virgindade sangrenta, o gigantesco monumento dourado foi bravamente “gongado” 3 vezes pela senhora MARIA ALICE CAMPOS FREIRE, presidente do Conselho Internacional das Avós Nativas (A Voz das Avós – ver pagina no Facebook ) que, iluminada e muito felizmente, nos deixou sua palavra curta - mas de responsa - sobre a PAZ... depois dela não lembro, acho que nada mais aconteceu, um talvez paraguaio, uma mulher talvez "moderna“, e o chinês nervoso do Futuro Testamento repetiram as proezas do discurso de intenções seguido das badaladas, sendo premiados com um enorme diploma, com direito a foto posada ao lado do chinês, talvez em agradecimento ao seu grande feito... 
Eu só conseguia pensar no que tinha sido gasto para trazer aquele sino monstruoso, junto com dois outros gongues tradicionais, e mais a extensa comitiva (todos em túnicas longas de brocado branco, com bandejas de... jacarandá (?) forradas de seda vermelha) - e me perguntava que representatividade tínhamos nós, brasileiros, naquele circo estrangeiro.
Pra finalizar, um chinês, num bailado belo, badalou mais 3 vezes o sino, enquanto embaixo do palco um enorme e lindo dragão tradicional chinês de papel/pano colorido entrava dançando e acordando meu sonho. Então num segundo eu vi nossos índios e mulheres num círculo, e nós, público, juntos, numa dança louca de guerra, agradecendo, louvando, pedindo a benção e perdão à nossa injuriada Mãe Terra... daí desandou-se a festa, com mais leituras e releituras de propósitos e intenções: lugares-tão-comuns-e-repetidos-nunca-se-ouviu. E todos cantaram e dançaram alienados ao som desafinado do cantautor de violão paraguaio que láláláiou até que eu conseguir fugir para o meu silêncio... bem longe dali... 
Ah, sim, trouxemos todos sementinhas de girassol, um sonho que eu com certeza vou plantar na minha nova terra, assim que a tiver..."
(Charge disponível em: http://www.humorpolitico.com.br/meio-ambiente/vai-comecar-a-rio-20/  . Não consegui ler o nome do autor! Caso alguém saiba, por favor avise!)

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