Allen Gisbenberg, Central Park, 1966
enviado pelo amigo virtual, G. Arruda
Grata
Geração
sem medo está nascendo para o
mundo
por Fabio
Nassif - 14.6.13
Desta
vez deveriam ter de 15 a 20 mil pessoas na rua. Um ato que caminhava de maneira
organizada até a polícia interromper e iniciar a guerra. Toda tentativa de
intimidação foi simplesmente ignorada pela manifestação. Quando se tem certeza
de uma luta, não se recua diante de palavras que estamos acostumados a ouvir.
Chamou
a atenção a quantidade enorme de policiais infiltrados. Eram eles que jogavam
fogos e sinalizadores enquanto a absoluta maioria do ato gritava “sem
violência!”. Este método estatal é antigo, muito antigo, mas o Brasil
permanecia fingindo que deixou de existir. Assim como o desejo de realização de
uma manifestação vitoriosa acabou novamente sendo verbalizada espontaneamente
pelos manifestantes, estimulados por uma preocupação coletiva em torno da nossa
pauta.
Obviamente,
a repressão estava decretada. Não só pela ânsia de soldados mal pagos,
treinados para reprimir a qualquer custo, mas respaldado pelos governos
municipal, estadual e federal. Haddad declara que não vai abaixar a tarifa e
que considera as manifestações violentas. Alckmin vomita as mesmas palavras de
sempre, pela punição, repressão e criminalização. E José Eduardo Cardozo, o
“professor” de direito que, além de encabeçar o anúncio oficial do genocídio
indígena com as mudanças no método de demarcação de terras, afirma que o
governo federal está à disposição para ajudar na repressão.
A
repressão foi tremenda. Aliás, por curiosidade, quanto se gasta para reprimir
uma manifestação? Helicópteros, 700 soldados, balas de borracha, bombas,
cavalos, combustível... Gasta-se o quanto os governantes acharem necessário
para proteger o Estado. Gasta-se cotidianamente contra os pretos, pobres
e periféricos. A manifestação se dispersou e se juntou mais de uma vez. Está
certo, nem a polícia sabia para onde dispersar. Talvez a intenção nem fosse
esta. Mas também os manifestantes não viam sentido em fazê-lo voluntariamente.
Afinal, estamos certos. Agora, é hora novamente de lutarmos sem trégua pela
libertação dos nossos.
Pois
então. Do outro lado, até a mídia, atingida pelas balas de borracha, passa a
questionar os motivos de tanta intransigência dos governos. Ora, a pauta voltou
ao seu lugar! Já não é lunático pedir a revogação dos aumentos. E mais, já não
é aceitável tamanha violência estatal.
Mas
o emocionante nesta jornada toda, para além da gostosa e distante sensação de
nos juntarmos a jovens e trabalhadores de todo o mundo que estão em luta, é
saber que o Estado e a mídia burguesa estão formando uma geração de ativistas.
Saber que as lutas contra o aumento ocorreram em diversas outras cidades como
Porto Alegre, Natal, Maceió e Rio de Janeiro nos dá força. Saber ainda que uma
manifestação foi realizada em Curitiba, simplesmente em solidariedade às
demais, é arrepiante.
É
muito possível revertermos o aumento. Porém, mesmo sob uma derrota triunfal,
uma geração está sendo forjada pela experiência prática sobre o que é nossa
democradura, a necessidade da organização coletiva e da disputa de uma
sociedade inteira que, mesmo não entendendo essas cabeças juvenis, sabem que
elas têm razão. Ah, e uma geração com um repúdio gigante à mídia da ordem.
No
Chile, diante das massivas manifestações estudantis, diz-se que esta é uma
geração sem medo, pois não viveu os tempos sombrios da ditadura oficial e
tampouco está adaptada à ordem. E é a própria geração esmagada pela ditadura e
depois pelo discurso neoliberal quem chega a esta conclusão, contribuindo assim
para repassar o bastão da história. E isto se transforma em solidariedade,
inclusive dos familiares e conhecidos dos manifestantes.
É
cedo pra dizer isso do Brasil. Muito cedo. Ainda viveremos muita barbárie fruto
da desigualdade social, adormecida enjoativamente pelo discurso da pátria de
chuteiras e por uma sensação de estabilidade. Mas não é exagero afirmar que não
somos a geração amorzinho, da conciliação de classes e da organização orquestrada
pelo capital. E de repente, nos vácuos da calmaria e do senso comum, nasceremos
para o mundo.
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