Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

sábado, 29 de junho de 2013

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ROBERTO ROMANO: Não sou admirador de Robespierre, porque discordo de sua inspiração, Rousseau. Mas não posso deixar de reconhecer que tanto ele quanto seu mestre percebem coisas perenes numa república, a começar com a tirania dos mandatários que se transformam, motu proprio, em soberanos. É exatamente o que ocorre no Brasil, sobretudo nos últimos tempos, o que suscitou as manifestações populares. Seria bom se os líderes dos movimentos e os poucos democratas que ainda restam aqui, lessem um pouco mais Maquiavel, Robespierre, etc... mas a última coisa que eles fazem é ler algo mais sério do que as ordens emanadas das direções partidárias, dos palácios....


A fonte de todos os nossos males é a independência absoluta em que os representantes colocaram a si mesmos diante da nação sem a ter consultado. Eles reconheceram a soberania da nação e a nulificaram. Eles, por sua própria confissão, eram apenas mandatários do povo e fizeram de si mesmos soberanos, isto é, déspotas; pois o despotismo nada mais é do que a usurpação do poder soberano. Sejam quais forem os nomes dos funcionários públicos e as formas exteriores de governo, em todo Estado em que o soberano não conserva nenhum meio para reprimir o abuso que seus delegados fazem da sua potência e para deter seus atentados contra a Constituição do Estado, a nação é escrava, pois é abandonada absolutamente à mercê dos que exercem a autoridade, e como é da natureza das coisas que os homens prefiram seu interesse pessoal ao interesse público, quando podem fazê-lo impunemente, segue-se que o povo é oprimido sempre que seus mandatários são absolutamente independentes dele. (….) Colocai ao lado de um monarca rico e poderoso uma assembléia representativa que não deve prestar contas a ninguém por sua conduta, resultará sempre desta combinação apenas despotismo e corrupção”. Robespierre, “Dos males e dos recursos do Estado” in Oeuvres de Maxilien Robespierre, (Paris, Chez l ‘Éditeur, Faubourg Saint-Denis, 13), 1840, T. I, p. 58.

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