Excelente, professora Marta.
Gostei muito de ler este texto. Sou professor de escola pública do estado de
São Paulo, e concordo plenamente com as colocações sobre o bônus. Eu costumo
dizer aos colegas que a ideia da meritocracia em si não é ruim, mas da forma
como é empregada aqui em São Paulo ela se tornou muito injusta. E olha que não
estou pensando em mim, pois recebi quase R$ 7.ooo,oo de bônus este ano, simplesmente
porque quase não faltei o ano passado, e os estudantes da minha escola foram
bem na prova do Saresp. Eu falo pelos outros colegas meus, muito competentes no
que fazem, mas que não receberam quase nada, porque os alunos da escola em que
dão aulas, por sinal uma escola muito boa que já atingiu índices elevados, não
conseguiu este ano subir estes índices. Não consigo ver critérios mais injustos
do que estes. Exemplo. Os colegas de uma escola que teve o índice elevado de 3
para 4, receberam prêmios altos. Os outros, de uma boa escola que mencionei, e
que não conseguiram elevar o índice de 7 para 8, convenhamos, uma tarefa mais
difícil, não receberam quase nada.
Já estamos percebendo na minha escola que talvez no próximo ano não consigamos
atingir a meta estabelecida pelo governo, pois nosso índice já está
relativamente alto. Não se trata, no entanto, no caso de São Paulo, de se criar
estímulos para que maus profissionais não resistam à tentação de dar uma nota
boa nas provas dos alunos para forjar uma situação artificial, e ganhar mais
dinheiro com isso, como sugere uma das charges acima, pois a avaliação é feita
pela prova do SARESP, mas achei que o texto foi direto ao ponto, sobre a
necessidade de melhorar as formas de avaliação do desempenho dos professores.
Do jeito que está não dá.
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Jairo:
Grata pelo retorno. Você deixou mais claro o que ocorre com os bônus para as escolas. Chega-se em um ponto que atrás de um bônus, terá que vir mais bônus. Os problemas dos professores que trabalham no nível fundamental e médio são (eu já trabalhei como professora do ensino fundamental e médio em SP):
1 - carga horária elevadíssima. Quem ministra 40 horas e consegue pensar, fazer suas aulas, ter autonomia diante dos famigerados livros didáticos? Aliás, os livros didáticos, a indústria dos livros didáticos vem a calhar para essa maneira de ter escolas e professores. Tenho dito (seguindo os estudos de Tarso Mazzotti) que os livros didáticos tornam-se a partitura do professor (ver Comenius). Como em uma fábrica, os livros didáticos atuam como as máquinas de dar aulas.
Teríamos que ter no máximo 20 horas aula por semana.
2 - os baixos salários.
Perfeito, professora. Um bom resumo sobre nossos problemas. Eu leciono Física, e tenho, em uma escola, 15 classes com 40 alunos cada uma. Em alguns casos, preciso tomar cuidado para não pisar no pé de algum aluno quando estou escrevendo na lousa.
ResponderExcluirAlém dos livros didáticos, que são fornecidos na nossa escola através do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), há uma espécie de cartilha que devemos seguir, que aqui em São Paulo é chamada de Caderno do Aluno, de qualidade questionável.
Não preciso nem dizer o montante de dinheiro, e também de interesses de vários tipos, que estão envolvidos nestas escolhas e no pagamento das equipes definidas pelo governo paulista, para a elaboração destas cartilhas. Esta seria uma outra longa história.
Abraço.